Muito já se fez, e se faz, pela defesa da “Liberdade”. No século retrasado, defendia-se a soltura em massa de escravos em nome da Liberdade; nos EUA (principalmente), muito se lutou e debateu pelo fim das leis raciais, que segregavam a população por conta da cor de pele.
Já neste século (e no fim do XX), vários movimentos surgiram gritando pela Liberdade do homossexual, dos transexuais, da nudez, além de outras práticas e hábitos que, antes, eram vistos como tabus pela sociedade (e ainda são na realidade), ilegais pela Justiça. Este o problema: o que é a Liberdade e como defini-la?
Se os atuais movimentos progressistas descendem daqueles que, no passado, lutaram pelo fim da escravidão e da segregação, quebrando tabus e realocando questões como a cidadania, então não estariam os atuantes de agora, lutando pela liberalização das drogas, por exemplo, seguindo uma tradição de Liberdade?
Acredito que, além de não seguirem tradição que não seja a Revolucionária (guiando-me pelo conceito de Paralaxe Cognitiva, de Olavo de Carvalho), não promovem nada para com a Liberdade de fato, mas apenas clamam por um tipo de libertinagem imaginária. “Liberdade” é um conceito, portanto, possui um quadro real que a baliza, ou seja, que a delimita enquanto tal. A verdadeira Liberdade não consiste, como muito já foi demonstrado, em um absolutismo abstrato, pois o detentor desta Liberdade estaria, de fato, negando-a para os demais indivíduos, ao exercer seu poder com nenhuma espécie de freio; sabe-se também que, em níveis autárquicos, é impossível se ver livre de coisas como sua própria biologia, conceitos ontológicos como “Humanidade”, do mundo físico e suas ações para com o Homem ou da própria psique humana.
“Liberdade”, portanto, só existe dentro de certos limites. Seu uso irrestrito, mesmo que se desconsidere o alvedrio de outrem, com toda a certeza desemboca numa série de vícios que, no fim, prendem o sujeito. Liberdade não pode confundir-se com libertinagem, isto é, essencialmente não pode ser algo exagerado, total e irrestrito.
Quando os escravos negros, no Ocidente, foram libertados, suas liberdades eram clamadas por conta de um entendimento que se tinha sobre a “Natureza do Homem”. A humanidade não é uma espécie cativa, possuindo uma natureza que deveria imperar, que naturalmente inclinaria o indivíduo a ser livre, Senhor de si mesmo. Quando, no século passado, se lutou contra a segregação racial legal, nos EUA, a base para os direitos iguais estava na Natureza Humana, a partir da qual a simples cor de pele não deveria ser um motivo para segregar ninguém.
Nos casos citados acima, a Liberdade foi embasada na Natureza, ou seja, ela foi contida em um esquema. Exacerbe esse esquema, essa relação entre o Natural e o liberal, e conseguirá libertinagem.
Cultura não é sinônimo de Natureza, por exemplo. Outra cultura não necessariamente pode ter as mesmas liberdades que outra. Um povo pode considerar normal e virtuoso se masturbar em público… E outro pode achar ofensivo, repugnante, grosseiro, criminoso, etc. Ter uma cultura é natural, mas o que essa cultura professa é outra coisa.
Culturas escravocratas não possuem uma naturalidade em suas propostas econômicas, por exemplo; tampouco nenhum sistema de mentalidade que não creia na unidade ontológica do Homem se enquadra na naturalidade. Mas vem a pergunta: o que expressões públicas de afeto homossexual têm de naturais? E o que expressões de afeto heterossexual também possuem? Nada. Estão à parte do que se coloca aqui como Natureza, pois beijos, abraços, “amassos”, o que seja, não interferem na essência humana, em seus atributos basilares e irremediáveis.
Não é por liberdade, mas sim por um alargamento de atos possíveis que, no caso, atentam contra uma moral pública, desnorteiam parâmetros de certo e errado, além de serem considerados ofensivos pela ordem social presente. Não se trata de uma “Liberdade” genuína, mas apenas de uma mera tolerância cultural para com determinados atos. Na Idade Média, por exemplo, em certos locais a nudez pública era normal, desde que consistisse numa ida de uma casa para uma Casa de Banho. Os tempos mudaram e esse tipo de nudez foi repreendida. Alguma perda de liberdade de fato? Não. A questão é marginal, não essencial.
A existência de gays se beijando em público, de fato, poderia ser algo bem normal. Mas não o é, e, com efeito, tenta-se normalizar tal ato com base na força, com leis e jurisprudências que punam quem mostrar alguma expressão de desagrado, desconforto, ou quem simplesmente for contra. Uma tradição e ordem social vigente sendo cortadas na raiz, sem meios de defesa, pois caso se defendam, seriam criminosas, homofóbicas.
Dane-se caso alguém fique constrangido, se alguém se sentir atingido. Amam a “liberdade”, mas também adoram usá-la como arma para o constrangimento daqueles de quem discordam.
No fundo, não é uma verdadeira questão de Liberdade.