“As tropas do Superman logo têm o poder para abalar a Terra. Terão poder bastante para salvá-la? E salvá-la… do quê?”
Escrita por Mark Waid e ilustrada por Alex Ross, O Reino do Amanhã é um clássico da DC Comics, e assim estava destinado a ser desde que essa obra foi devidamente terminada. Ela foi escrita no crepúsculo do século passado, inspirada no trabalho – de mesmo nome – do escritor Eliot S. Maggin, que escreve uma introdução (na edição definitiva) que já explica toda a profundidade e o peso da mensagem da HQ.
Antes de qualquer coisa é necessário enfatizar que O Reino do Amanhã não se trata de uma obra á direita, tampouco á esquerda. Mesmo sendo impossível não fazer paralelos com a História humana – como o fascismo e os governos autoritários que criam e têm heróis como líderes que, na realidade, são ou se tornam tiranos –, não seria válido catalogá-la em termos políticos; a obra é, antes de tudo, de viés moral e procura tratar de algo importantíssimo: a humanidade e o poder.
No multiverso da DC, há heróis: super-seres capazes do impossível, homens que correm mais rápido que a luz, resistem a balas, levantam navios das profundezas dos mares e, ainda, podem voar; vai, até mesmo, além disso: há homens, sem nenhum poder, que podem derrotar os superpoderosos. Ainda assim há vilões, entidades tão poderosas quanto, capazes de feitos grandiosos em crueldade – e assim como no caso dos heróis, existem vilões sem poderes capazes de derrotar os poderosos.
Assim, no universo da HQ em questão, o mundo vive em meio aos vilões e heróis, uns com propósitos filantropos, outros agindo de forma inconsequente, ou, atuando apenas para o bem próprio, não enxergando um bem maior – ou, ao menos, viveu assim em seu passado.
O Reino do Amanhã se passa em um futuro alternativo do conhecido e padrão mundo da DC. Houve uma Liga da Justiça, um Sandman, alguém que usou o capacete do Dr. Destino, o último habitante de Krypton caiu na fazenda de um casal americano no centro dos Estados Unidos, um garoto teve seus pais assassinados em sua frente, na saída de um cinema em Gotham… Mas os anos se passaram e os filhos, descendentes e aprendizes de tais heróis tomaram os postos de seus antigos mentores.
É nesse cenário que vive o pastor Norman Mccay, um homem que tem fé nas Escrituras e utiliza dessa fé para suportar um mundo cada vez mais insensato e caótico, um mundo dos homens do amanhã, dos herdeiros dos antigos heróis. Mccay, como todos à sua volta, vê a selvageria abusiva que os novos heróis causam em seu meio. Por que causam? Pois se consideraram, literalmente, como meta-humanos. O mundo inteiro crê na superioridade dos super-seres, pois apenas passaram a enxergar o físico, o material e evidente, mas se esqueceram de ver pelo interior, o ontológico que nos faz todos iguais.
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“O Mundo que Wesley deixou está cheio, não daqueles seus heróis…, mas de seus filhos e netos. Eles são incontáveis… prole do passado, inspirados pelas lendas dos que vieram antes… mas não pela moral. Eles não lutam mais pelo que é certo. Lutam simplesmente por lutar, tendo uns aos outros como inimigos.
Os super-humanos se gabam de quase terem eliminado os supervilões do passado. Grande Conforto. Eles se movem livremente pelas ruas… pelo mundo. São desafiados, mas nunca… São detidos. Afinal, eles são… nossos protetores”.
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Como todos veem os super-humanos como super-humanos, os próprios meta-humanos passaram a se encarar como os salvadores do mundo, os campeões da justiça. Colocaram-se acima da humanidade, portanto, deveriam defende-la. Como um mundo, antes repletos de entidades superpoderosas e combatentes da vilania, se transforma em um lugar tão violento, tão cheio de injustiça, onde – como ocorre nas noções de justiça dos sofistas eristas[1] – existem pessoas para além da humanidade imperando sobre a humanidade, que permitiu que outros enfrentassem o futuro para ela? Pois os antigos heróis, os bastiões da Justiça, se tornaram antiquados para os novos tempos.
O pastor, atormentado como todos, começa a ter visões. Suas visões mostram um amálgama de versículos bíblicos e imagens devastadoras: ele as interpreta como o fim de tudo, perdendo as esperanças, até que um antigo herói – agora uma entidade cósmica muito superior – o Espectro[2], entra em sua igreja e se revela interessado nas visões de Norman.
Espectro permite que o pastor transcenda o tempo e o espaço, mostrando o mundo e sua situação para os olhos humanos do sacerdote. Sua primeira visita é ao Superman, o antigo campeão da Terra, aposentado há uma década e com as costas voltadas para os homens. O Homem de Aço vive em sua Fortaleza da Solidão, fazendo jus ao nome do local, Superman se desligou de todos. Mesmo com seus super-sentidos, não sabe o que ocorre com o mundo…. Até que a amazona vai até ele.
A Mulher Maravilha ainda se importa com o “Mundo dos Homens”, como dizem as Amazonas de Temiscira, e pretende levar o filho de Krypton de volta a ele. Os meta-humanos, soltos às suas próprias consciências, conseguiram o impensável: por conta de uma única batalha, mataram um super-humano que, ao morrer, liberou tanta radiação que exterminou todo o estado do Kansas[3], deixando mais de um milhão de mortes pelo caminho. O antigo protetor da Terra decide dar um basta a toda a negligência meta-humana. Superman volta à ativa.
Reunindo a maioria dos membros antigos da Liga, o herói consegue reestabelecer a ordem nos Estados Unidos, porém, a problemática é global, e Superman precisa de um verdadeiro exército para reestabelecer a linha dos meta-humanos. Seu plano é drástico, consistindo em uma abordagem forte, rápida, como remédio para os problemas superpoderosos; aqueles que se negarem a juntar-se ás forças do Superman serão, invariavelmente, presos. Para tal, é necessária uma prisão que suporte, combinados, todos os meta-humanos. Superman até que procura um local seguro para que superpoderosos fiquem, mas quando não vê alternativas, se decide: a prisão será nos EUA, e ele não se dá ao trabalho de notificar a nenhuma outra autoridade humana tal feito.
Há, todavia, um revés. Resolver um problema, de uma escala tão grande, plural e complexa, não requer uma solução rápida e grosseira. Superman age sob a égide da força. Os Homens do Amanhã, aqueles que foram escolhidos porque se adequavam mais a um mundo moderno, a uma geração mais nova – por serem, aliás, mais violentos, por agir com uma pretensa superioridade ao preferir a morte de seus inimigos –, com o intuito de segurar o mundo em suas ideias, em seus grupos e facções, acabaram se pluralizando e gerando várias visões de certo e errado, vários valores diferentes nas mãos dos que estão além do homem: tais seres precisavam ser detidos, mas também contidos. No fim, Superman agia como um líder de Estado, usando de sua vontade para arbitrar e decidir o destino dos meta-humanos, e sem consultar a humanidade para tal.
A atitude é clara: para o Homem de Aço, é necessário ter o controle, pela força, pela arbitrariedade, mas ainda assim, destoando dos homens do amanhã, prezando a vida humana, o bem do outro e agindo, nas batalhas, com cautela e responsabilidade. Superman destoaria, por ter essa prudência, da nova geração de protetores? As visões e viagens de Norman Mccay transcendem o subjetivo do kryptoniano.
Para o pastor, o verdadeiro guia de Espectro – mesmo este sendo, de fato aquele que locomove e possibilita que Mccay veja o que se desenrola no mundo –, vê as chagas do mundo como um fantasma. Fatos ocorrendo na ONU, na caverna do Batman, na Torre da Liga, em reuniões feitas por Lex Luthor, etc. Norman enxerga a pluralidade de concepções do certo e do errado, as tentativas de rebeldia, as reações variáveis aos atos da Liga – a Mulher Maravilha crê que está em guerra, age como uma guerreira amazona, influenciando os pensamentos de todos na Torre; Mulher Maravilha, aliás, foi exilada de sua ilha por não ter sido agressiva o suficiente e não ter promovido a paz pela força; Batman é um dos únicos a enxergar o verdadeiro problema do plano de Superman. O Homem-Morcego percebeu que a tentativa de controle e de reforma dos atos e mentes dos meta-humanos mais novos era, na essência, algo totalitário. As Nações Unidas se vê temerosa, receando o poder de escolha da Liga e raivosa das ações, sem nenhum consentimento, conselho ou apoio, de Superman.
Luthor está consciente do problema que é ter patrulhas incontroláveis de super-seres pelo mundo. Seu plano é, em vez de diminuir a tensão, alimentá-la, para que a panela possa explodir e, daí, ele e seus apoiadores construírem um mundo mais ordeiro. Lex quer ver a humanidade detentora, mais uma vez, do poder global, e a qualquer custo. Uma vez que ele pensa que haverá uma guerra para tal, que vai haver sangue nas ruas, se limita a conduzir todo o planeta para esse confronto; ele maquina um plano para limpar o mal do planeta, não se importando se causará mais mazelas ainda com isso. É o típico controlador que, para prevenir um problema, o antecede com a desculpa de que depois não haverá mais problemas.
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– “…tenho uma preocupação similar. Devo presumir, então, que a FLH atua para elevar a dor em vez de diminuí-la?” – fala o Rei[4].
– “Por assim dizer. Sem dor, não há ganho. Nosso objetivo é aumentar a tensão entre humanos e meta-humanos… levá-la a um ponto em que os humanos não tenham escolha senão retomar as rédeas do poder mundial… a qualquer custo. Haverá guerra… sangue derramado… mas, no final, a humanidade governará a Terra outra vez” – respondeu Luthor.
– “’humanidade’. Traduzindo… vocês. Quando um vilão não é vilão?” – disse E. Nigma (o Charada).
– “Quando trabalha por um bem maior, Nigma” – falou Luthor.
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Superman ignora o plano de Luthor, Batman sabe que não conseguirá convencer o kryptoniano a desistir de seu plano, contudo, antevê o trabalho de Luthor e planeja impedi-lo.
A panela de pressão apenas esquenta ainda mais com o Homem de Aço tentando pôr ordem na casa. Suas ações desconsideram as opiniões de quase todos e um dos poucos que vê isso é o impotente pastor Mccay, com seu guiado, Espectro, que permitiu a Mccay ver todos os lados por conta das visões que possui, mas também porque Espectro quer que o pastor julgue se a Terra terá um fim, ou não.
No fim, Batman consegue sanar uma parte do estrago que Luthor faria, porém, a maior arma do vilão se apresenta: o Capitão Marvel. Marvel[5] foi escolhido pelo mago Shazam, que é – assim como o Espectro – umas das entidades-mor da DC, para zelar pela humanidade; o Capitão tem atributos sobre-humanos, como super-força, capacidade de voo e, também, possui magia: uma das poucas fraquezas do Superman. Luthor consegue fazer uma verdadeira lavagem cerebral em Marvel, que consegue escapar da ajuda de Batman.
Após a intervenção do Cavaleiro de Gotham nos planos de Luthor, o inevitável ocorre: uma rebelião na prisão. Aqueles que tentam contê-la são mortos e as paredes que seguravam os meta-humanos são derrubadas. Na Torre da Liga os atritos se tornam cada vez piores; Mulher Maravilha quer resolver através da matança, se necessário, Superman tenta convencê-la do contrário, querendo resolver tudo sem sangue, mas ainda assim com a ânsia de controlar para solucionar.
A guerreira amazona dá o aviso, em frente à prisão, para os meta-humanos revoltosos, mas seu pedido de coesão é ignorado e, ironicamente, o Plano de Luthor começa a ter vida própria e o sangue começa a ser derramado. Superman, banhado em sua própria ira, exige que Batman o ajude, porém, o Homem-morcego alerta sobre Capitão Marvel e Superman, em desespero, vai até o confronto e chega antes de Marvel trazer mais carnificina à batalha.
O final de tal batalha é decidido, não pelos meta-humanos, mas sim pelos homens, pela humanidade que foi negligenciada em todas as questões postas na mesa. A ordem vem da ONU, e três bombardeiros nucleares partem para dar fim à batalha entre as hostes meta-humanas. Antes dos caças chegarem ao local, o pior ocorre: Superman é impedido por Marvel e ambos começam a lutar. O Capitão ainda está sob o efeito da lavagem cerebral de Luthor, possuindo uma expressão risonha e insolente, estando completamente fora de si. A magia usada por Marvel faz Superman ter desvantagem. O Kryptoniano sangra enquanto escuta o som familiar de uma bomba caindo e vê, horrorizado, uma ogiva nuclear caindo em sua direção.
Enquanto lutava contra Marvel, os pedidos de Superman para que ele retomasse o controle eram em vão; Marvel fere Superman, contudo, antes que pudesse atingi-lo com mais um de seus raios mágicos, Superman o agarra e a magia se volta contra o escolhido de Shazam, fazendo-o voltar a ser um humano comum. O capitão é o único que compartilha dos dois mundos: ele é um homem normal, mas também um super-ser.
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– “Preste atenção, Billy. Mais do que jamais prestou antes. Olhe ao redor… a que ponto chegamos. Uma bomba está caindo. Ou ela nos mata… ou nós devastaremos o mundo. Sei que ainda posso deter a bomba, Bill. O que não sei é se devo… Essa decisão… não sou humano. Mas você, Billy… você é os dois. Mais do que qualquer um, você sabe o que é viver nos dois mundos. Só você pode pensá-los com a mesma medida. Lute contra a lavagem cerebral. Você pode me deixar ir… ou, com uma palavra… pode me deter. Entende a escolha que só você pode fazer?
Decida. Decida o mundo.
– Shazam”.
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Marvel levanta voo, puxa o Homem de Aço, vai até a bomba, levanta a ogiva até o mais alto que pode e grita para chamar seu raio o mais rápido que pode e então… A fúria da humanidade explode acima do campo de batalha.
À exceção de Superman e de poucos agraciados pela proteção do anel do Lanterna Verde, todos os beligerantes são massacrados pelo calor radioativo da bomba nuclear, que deixa um mar de ossos, descarnados pelas altas temperaturas, pelo campo de batalha. O problema meta-humano, o perigo de a batalha ir para o resto do mundo e afogá-lo em um mar de destruição, chegou ao fim por mando das Nações Unidas, contudo….
Ainda há um super-ser – ignorante da sobrevivência de seus amigos – tomado pela ira, pelo torpor de vislumbrar seu total e completo fracasso de tentar ajudar, das suas tentativas de melhorar o mundo. Superman está possesso pelos demônios que ele mesmo ajudou a criar e, como todos sob o controle de demônios, ele procura saciar sua mazela descontando em outros.
Ele ruma, como uma bala, para Nova York, para a sede da ONU. Ele planeja descontar a raiva na humanidade que, por medo e, também, por cansaço para com os abusos dos meta-humanos, dizimou quase todos.
Quando chega nas Nações Unidas, o Kryptoniano é frio e implacável: solda as portas de saída e, dentro do salão com todos os representantes mundiais presentes, ele tenta fazer o teto desabar, para matar todos os humanos presentes.
Antes de a bomba explodir, enquanto o Capitão Marvel ainda vivia, Norman precisa julgar se a humanidade teria um futuro, ou não. Espectro o usava como guia para tal, pois uma Força maior deu as visões para Norman e, para Espectro, também era o papel do detentor das visões julgar se a humanidade teria ou não um fim naquele momento. O pastor fica em silêncio, vendo tudo se desdobrar ao seu redor, até que Superman, em fúria, vai para Nova York. Espectro afirma que o tempo havia acabado e que o julgamento já estava feito, porém, Mccay se enfurece com seu transportador, exclamando que não viu várias mortes, desastres e crueldades à toa, apenas por assistir e para, no fim, o mundo terminar.
Norman exige que seja levado até as Nações Unidas, vislumbra a cólera do kryptoniano e tenta falar com aquele que, um dia, já foi Clark Kent. O pastor conhece Superman. Ele o acompanhou durante sua atuação como herói e o viu no íntimo de seus pensamentos junto a Espectro.
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– “Clark, não! Você se culpa pelo Capitão Marvel… Por Magog… por dez anos que terminaram hoje. Sua raiva… Ela o está fazendo esquecer de novo o que os humanos sentem. O que eles temem. Você não será perdoado por isto, Clark. Perdoe a si mesmo.
– Quem é… Por que está aqui?
– Para testemunhar. Clark… de todas as coisas que pode fazer… Todos os seus poderes… O maior sempre foi o seu conhecimento instintivo… Do certo… e do errado. Ele foi uma dádiva da sua própria humanidade. Você nunca precisou questionar suas escolhas. Em qualquer situação… Qualquer crise… você sabia o que fazer. Mas no minuto em que tornou o Super mais importante que o Homem… quando decidiu dar as costas à humanidade… isso lhe custou seu instinto. Sua capacidade de julgar. Recupere-a. Se quer redenção, Clark… Ela repousa na sua próxima decisão. Tome-a como um Homem”.
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Por fim o Homem de Aço se rende à razão. Ele tentou agir como um Deus, no fim, um controlador com vontades absolutas em relação ao mundo. Ele agia como se pudesse consertar tudo à sua volta, mas ignorava com que facilidade o estado das coisas muda e fica fora de controle. Superman, afinal, também era um Homem do Amanhã tanto quanto os sujeitos que ele se esforçou para prender. Ignorar a humanidade, com o intuito de ajudá-la, foi a sina para todos os seus planos.
Depois do sermão do pastor, ele percebe a gama de erros que cometeu. Ele realmente se viu como o mediador-mor da humanidade, se enxergando como um protetor para além do Homem, um verdadeiro meta-humano. No fim, por se considerar o Atlas da virtude salvífica, se colocou fora da humanidade, a considerando inferior – da mesma maneira que as facções dos novos heróis, antes, fizeram.
Como um kryptoniano sob o efeito da luz solar, ele supera a humanidade em todos os quesitos físicos. Ele pensa mais rápido, é mais forte, veloz, resistente, tem super-sentidos, etc., porém, não é isso que o fazia ser importante, superior. Eram suas noções sobre o que era verdadeiro e falso, certo e errado, verdade e mentira que o mantinham na linha, que o guiavam para o caminho correto; noções metafísicas, que não dependem do biológico, material, para existirem. No fundo, ontologicamente, não havia meta-humanos, mesmo com esses sendo física e mentalmente superiores.
Os protetores da humanidade, os salvadores do mundo, no fim, eram seus carrascos, seus verdadeiros ditadores, pois acreditavam estar trabalhando para um mundo melhor se colocando fora dele, em essência. Os Homens do Amanhã, aqueles mais descolados para um novo mundo, uma nova geração, jamais se olharam no espelho. Nunca duvidaram de si mesmos e do que estavam fazendo, não tendo autocrítica.
Por mais que, como disse acima, não faça sentido afirmar se é uma obra de “esquerda” ou de “direita”, pois ela se adequa a casos conservadores e progressistas ao mesmo tempo[6], é vero que não é possível não fazer paralelos com a História e o presente. Há mia semelhança entre os Homens do Amanhã[7] e os movimentos progressistas, ávidos para salvar o mundo, mas que se esquecem da sua própria humanidade falha, de que podem, também, serem monstros dentro de suas regras. Dizer que só há racismo para com pessoas não-brancas, que homens não podem opinar sore a violência contra a mulher, só por serem homens, e a divisão clara e cristalina da sociedade entre vítimas e opressores é uma evidência clara disso.
Não existem Homens do Amanhã, tampouco salvadores do mundo, mas apenas Homens e apenas o mundo. A maior qualidade a se conservar nele é saber, “apenas”, o que é o certo e o que é o errado, pois não há como transcender a isso, a tal metafísica, pois não há como transcender a própria humanidade e, no fim, ser um meta-humano.
Não existem Homens do Amanhã, nunca existiram ou existirão, mas o que sempre irá existir, sempre, é o Homem do Presente, uma humanidade igualada para além da física, por um cerne metafísico – uma igualdade – que não permite, de forma alguma, aos Homens colocarem-se, em essência, acima dos outros.
[1] http://www.sentinelalacerdista.com.br/beleza-salvadora-do-homem/ – com atenção à política banhada no sofismo.
[2] O Espectro é um dos personagens mais poderosos da DC. Ele é um espírito que possuiu um policial, Jim Corrigan, para punir almas corruptas, sendo um espírito vingativo; a característica mordaz do Espectro vai se perdendo com o tempo e atualmente o consideram um anjo caído que conseguiu uma espécie de redenção de Deus – Deus, a Voz, ou a Fonte, é o Criador de todo o multiverso da DC. Todas as histórias bíblicas, no mundo da DC, realmente ocorreram. Espectro, assim como o mago Shazam, fazem parte da Quintessência, composta por seres cósmicos de poderes imensos, que interfere em alguns eventos importantes no universo.
[3] Magog, um antigo herói que deu início a onda dos Homens do Amanhã, foi o responsável pelo exílio do Superman e pelo extermínio do Kansas.
[4] O Rei é um vilão da gangue Royal Flush, que tem a temática de baralho em suas vestimentas.
[5] O Capitão Marvel foi escolhido quando criança pelo mago Shazam e fazia parte da velha Liga da Justiça. Quando o Capitão grita o nome do mago que o escolheu, um raio mágico vem dos céus e o transforma em um super-humano – nessa HQ, Marvel já é adulto e sua vida foi influenciada por Luthor até que chegasse a derradeira hora para suas ações.
[7] Uma prova do quão nojento e mórbido o progressismo pode ser: https://www.youtube.com/watch?v=LLk2aSBrR6U. Se declaram, sem medo, Homens do Amanhã… porque é “2015”. Pouco importa a razão, a qualidade dos ministros… o que importa é que eles são compostos de mulheres feministas e imigrantes.