O saudoso economista Roberto Campos dizia que no Brasil a lógica econômica sempre viveu de férias. Decisões erradas no campo econômico desde a malfadada Era Vargas, em nome de um verde-amarelismo nacionalista, apenas prejudicaram o desenvolvimento do nosso país e nos deixaram na situação em que hoje estamos. Enquanto vizinhos como Paraguai, Chile e Colômbia desfrutam de um crescimento sustentado em bases sólidas, o Brasil vive um atraso crônico nos mais diversos setores, como afirmava o também economista Eugênio Gudin, o qual dizia que “Tudo que vem para o Brasil vem com certo atraso”.
O debate sobre a industrialização do Brasil é um marco para o nosso atraso econômico. Roberto Simonsen, fundador da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), defendia uma participação do Estado tendo um planejamento centralizado como base do desenvolvimento econômico a ponto de defender a planificação da economia nacional, política realizada por países como União Soviética e China. Por outro lado, Eugênio Gudin criticava o projeto de Simonsen por levar o Brasil a um capitalismo de Estado e defendia que o apoio à indústria brasileira deveria ser realizado de acordo com as regras de mercado e não através de intervenção estatal. Gudin ainda defendia que o Brasil precisava explorar mais sua vocação agrícola para se consolidar no mercado internacional.
Rapidamente o industrial paulista acusou o economista carioca de ser contra a indústria nacional e passou a defender com mais veemência a participação estatal na economia para a “contenção de disparidades”. Logo Gudin desnudou Simonsen mostrando que o paulista era um empresário que não gostava de concorrência e que desejava apenas obter benefícios em detrimento da população, como expresso em carta endereçada a Comissão de Planejamento Econômico em 24 de Agosto de 1945.
“O que o Dr. Simonsen não quer é concorrência. O que ele quer é que o Estado, por um empréstimo obtido de governo a governo, proporcione aos industriais existentes a aquisição de novo aparelhamento e não permita a entrada de novos concorrentes. É o caso típico do que diz [o economista liberal Ludwig Von] Mises [1881-1973]: O plano daria aos atuais proprietários e dirigentes das indústrias uma posição privilegiada contra possíveis novos e eficientes concorrentes”.
Roberto Campos, aluno de Eugênio Gudin e defensor da visão industrial do economista carioca, afirmou, em sua obra “A Lanterna na Popa”, “que Gudin insistia em que o processo industrializante deveria observar as linhas de vantagens comparativas e deveria caber principalmente ao setor privado, sem relegar à agricultura, à posição de vaca leiteira para financiar a industrialização”. Embora os argumentos do carioca fossem melhores, a política industrial realizada pelo governo foi a defendida por Roberto Simonsen, com fechamento da economia brasileira; benefícios aos empresários amigos dos governantes; e financiamento estatal ao empresariado via bancos públicos.
O modelo econômico brasileiro não sofreu grandes alterações desde os anos 1940. Durante o Governo Militar (1964-1985) o financiamento a grandes obras, o benefício a grupos empresariais, legislações burocráticas e o aumento da participação do Estado na economia fizeram com que o Brasil se tornasse a economia mais fechada do mundo capitalista durante a chamada Guerra Fria. A Constituição de 1988 ajudou a piorar tal cenário, tornando absurdos, como a proteção à indústria nacional e aos produtos de fabricação nacional, políticas de Estado.
Durante os Governos Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso esse cenário se reverteu um pouco, com uma redução tímida da participação estatal na economia como, por exemplo, as privatizações dos setores de telefonia e de mineração. Também aconteceram reformas na Constituição que ajudaram o cenário a ficar um pouco mais tranquilo na parte econômica.
Com os governos do PT, capitaneados pelo atual presidiário Lula e pela rainha da mandioca Dilma Rousseff, a prática se intensificou. Empréstimos camaradas do BNDES, expansão desenfreada do crédito, políticas setoriais como o “Minha Casa Minha Vida”, benefícios fiscais e legislações burocráticas ajudaram a fortalecer o capitalismo de Estado, culminando em corrupção e crise econômica agressivas. Ao longo de nossa história recente, o doente recebe injeções da própria doença em vez de receber a cura por meio de medicamento, ainda que este seja amargo.
Todos nós desejamos um Brasil mais forte e ocupando um lugar de destaque no mundo. Mas nosso crescimento não pode ser sustentado em um ambiente onde políticos influenciam na economia do país em nome de um nacionalismo verde-amarelo que prega o desenvolvimento, mas que apenas condena os mais pobres a pagarem uma conta pesada via impostos altíssimos, privando-os de obter acesso aos melhores serviços.